Estamos na semana da páscoa e existe um evento muito curioso envolvendo dinheiro sujo, 30 moedas de prata e a venda de informações privilegiadas que desencadearam os acontecimentos que celebramos na páscoa cristã.

Sempre me interessei pela maneira como as religiões se referem ao dinheiro por acreditar que ela impacta na maneira como nos relacionamos com o dinheiro.

Veremos neste artigo que os problemas provocados por uma relação desequilibrada entre as pessoas e o dinheiro, sempre produziram consequências. Muitas vezes, essas consequências impactaram a história do mundo.

O livro mais importante para os cristãos, a Bíblia, está repleto de trechos que falam sobre dinheiro. A palavra “dinheiro” aparece 59 vezes na bíblia. Só o apóstolo Mateus, que foi cobrador de impostos, escreveu a palavra 11 vezes em seu evangelho. Mas foi o apóstolo Judas Iscariotes, conhecido por trair Cristo, que deixou exemplos claros sobre as últimas consequências que essa relação desequilibrada com o dinheiro pode atingir.

Na semana da páscoa, antes da última ceia, Judas Iscariotes, procurou os principais sacerdotes da cidade e perguntou o que ele ganharia se revelasse uma informação privilegiada: onde Jesus Cristo poderia ser encontrado. Ele já sabia que Jesus era procurado e certamente essa informação poderia render algum dinheiro. Ele entendeu isso como uma oportunidade de lucro fácil e rápido.  No início, ele não se importou com as consequências da sua decisão financeira. Os sacerdotes responderam que pagariam 30 moedas de prata. Judas aceitou a proposta. Com a informação de Judas, Jesus foi preso e crucificado.

Judeia, Shequel de prata 14,27grs. cunhado em Jerusalém 12/11 a.C.

Provavelmente as moedas que Judas recebeu eram como esse shekel em prata (foto acima) que circulou no tempo de Cristo. Era uma moeda que pesava mais ou menos 14 gramas de prata. Ela circulou em grande quantidade e apresentava no anverso o rosto do antigo deus Melkart, também conhecido por Baal, e no reverso apresenta uma águia virada à esquerda (fonte).

Quanto valia 30 moedas de prata? Atualmente podemos comprar 1kg de prata por R$ 5.500,00. Esses 14 gramas de prata custariam hoje R$ 78,48 (5,5 x 14) e as 30 moedas valeriam R$ 2.354,40. É claro que não existia uma relação entre o peso do metal e o seu poder de compra. Também não sabemos o valor da grama da prata 2 mil anos atrás, mas é possível saber, pelos próprios escritos da bíblia, que naquele tempo essas 30 moedas eram suficientes para comprar um terreno na região onde Cristo morreu.

Depois que Jesus foi preso, Judas não se sentiu feliz com suas 30 moedas. Ele sentiu remorso e tentou devolver as moedas para os sacerdotes, mas não conseguiu:

‘Quando Judas, o traidor, viu que Jesus havia sido condenado, sentiu remorso e foi devolver as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes, dizendo: — Eu pequei, entregando à morte um homem inocente. Eles responderam: — O que é que nós temos com isso? O problema é seu. Então Judas jogou o dinheiro para dentro do Templo e saiu. Depois foi e se enforcou. ‘ Mateus 27:3-5

Aqui temos algumas mensagens simbólicas dessa passagem:

  1. Sentimos remorso quando ganhamos dinheiro através de atos imorais. Talvez, revelar o paradeiro de uma pessoa procurada não fosse ilegal, mas saber que essa pessoa era inocente e, mesmo assim, lucrar com a informação é um ato imoral. Prejudicar uma pessoa inocente, ainda mais por dinheiro, é algo entendido como injusto e inaceitável para a nossa própria consciência em qualquer tempo. Não podemos escapar dos julgamentos da nossa própria consciência que serão inevitáveis no futuro.
  2. O texto também tenta mostrar que ninguém pode fazer nada pelo nosso remorso. Não é possível transferir esse remorso para terceiro. O remorso é um problema exclusivo de quem o sente. É sofrimento fruto do julgamento da nossa própria consciência, que certamente é o mais pesado de todos os julgamentos. No fundo, todos sabem o que é justo e injusto e sentem o peso na consciência, esse autojulgamento pode demorar, mas ele sempre aparece.
  3. Diante do remorso e da impossibilidade de reparar o erro, o dinheiro perde o seu valor. O remorso e o arrependimento tiram o valor do dinheiro. No texto, as 30 moedas de prata, que foram tão desejadas no início, perderam o seu valor quando Judas percebeu que eram os frutos de uma injustiça. Foi nesse momento que Judas jogou o dinheiro fora.
  4. Não foram só as moedas que perderam o valor. Judas considerou que sua própria vida não tinha mais qualquer valor diante da injustiça que tinha cometido por dinheiro. Diante do desespero de não poder voltar atrás, sua vida também perdeu valor junto com as moedas. Foi assim que ele resolveu acabar com a própria vida.

Vivemos em um momento histórico onde podemos presenciar muitas notícias de políticos, empresários, profissionais de diversas áreas e até religiosos envolvidos com formas injustas, ilegais e imorais de ganhar dinheiro.

O texto religioso deixa implícito que não é possível dar valor para um dinheiro conquistado através de meios injustos. Da mesma forma que Judas jogou fora o dinheiro que recebeu, todos que cometerem injustiças para conseguir dinheiro, um dia jogarão esse dinheiro fora de alguma forma. Não faltam formas de desperdiçar dinheiro que não damos valor.

Para piorar a situação, além do dinheiro injusto perder valor, a própria vida de quem prospera de forma injusta também perderia seu valor, levando a pessoa a atentar contra a própria vida. O enforcamento seria apenas o extremo provocado por uma profunda depressão. Existem muitas formas destrutivas para reduzir uma depressão provocada por arrependimentos desse tipo. Muitos acabam com a própria vida utilizando meios lentos de destruição como os vícios, álcool, drogas e outros exageros que o dinheiro permite e que acabam com a saúde das pessoas.

O texto mostra que não adianta tentar se livrar do dinheiro. Antes de se enfocar, Judas jogou as moedas fora, no chão do templo, e os sacerdotes tiveram que tomar uma decisão sobre o que fazer com aquele “dinheiro sujo”.

‘Os chefes dos sacerdotes pegaram o dinheiro e disseram: — Isto é dinheiro sujo de sangue, e é contra a nossa Lei pôr esse dinheiro na caixa das ofertas do Templo. Depois de conversarem sobre o assunto, resolveram usar o dinheiro para comprar o “Campo do Oleiro”, a fim de que servisse como cemitério para os não judeus. Por isso aquele campo é chamado até hoje de “Campo de Sangue”. ” ‘ Mateus 27:6-8 

Aqui temos novamente a ideia de que o dinheiro “sujo de sangue” ou fruto do sofrimento de outras pessoas, não tinha qualquer valor.

Segundo o texto, ele não poderia ser guardado e não poderia ser doado. O dinheiro acabou sendo imediatamente gasto comprando uma terra que serviria apenas como cemitério. Isso passa a ideia de que somente os mortos, justamente por estarem mortos, não sofreriam nenhuma consequência negativa pelo uso de um bem adquirido com o “dinheiro sujo”. Talvez, para os religiosos, qualquer outra finalidade dada ao dinheiro sujo poderia ser desastrosa.

Judas cometeu suicídio, mas simbolicamente existem muitos políticos, empresários e profissionais de todos os tipos cometendo suicídio financeiro, moral, social, destruindo suas carreiras profissionais, vida social e familiar em troca das moedas de prata conquistadas através do prejuízo gerado na vida de outras pessoas.

Se você é um profissional que ganha dinheiro através de meios que teria vergonha de contar para seus filhos, pais, amigos e sociedade, aproveite a páscoa para refletir sobre o que está fazendo.

Até que ponto compensa fazer algo errado, que prejudica outras pessoas, para ganhar dinheiro fácil e rápido e depois sofrer as consequências do remorso ou o risco de, inconscientemente, perder o valor dado ao dinheiro e a própria vida?

Eu não tenho nenhuma dúvida de que exista algum fenômeno psicológico que explique a ideia por trás do provérbio popular: “O que vem fácil, vai fácil”.

Nada melhor do que dinheiro merecido, fruto de um trabalho que ajudou a melhorar a vida de outras pessoas, resultado de atividade útil, justa e benéfica. O mundo seria um lugar bem melhor se as pessoas tivessem a mínima preocupação com a origem do dinheiro que ganham. No fundo, temos plena consciência se estamos construindo uma riqueza baseada em dinheiro limpo ou dinheiro sujo. O julgamento da consciência é implacável e isso independe da religião.

 

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