A cada 45 dias o COPOM (Comitê de Política Monetária) toma decisões que influenciam no valor do seu dinheiro, nos juros que você paga ao se endividar e nos juros que recebe ao investir.

O COPOM tem o poder de frear ou reaquecer a economia, tornar investimentos de renda fixa ou de renda variável mais ou menos atrativos, estimular o desestimular o endividamento das famílias e das empresas, produzir impactos indiretos no preço do dólar e assim por diante.

O COPOM é um órgão que faz parte do Banco Central do Brasil. Ele é responsável por reduzir, aumentar ou manter os juros básicos da economia (taxa Selic) a cada 45 dias. Esta taxa interfere em todos os juros do mercado, no valor do dinheiro e no valor dos ativos.

Ela interfere nos juros que você recebe quando faz qualquer investimento ou nos juros que você paga quando pede dinheiro emprestado.

Investidores e empresários observam as tendências da Selic antes de fazer qualquer investimento financeiro ou produtivo. De forma direta ou indireta, grande parte dos números da economia sofrem interferência das decisões do COPOM. A sua vida é impactada diretamente pela taxa Selic, sem que você tenha total consciência disso.

O principal objetivo do COPOM, ao modificar a taxa de juros, é controlar a inflação. Fazer o controle da inflação também pode ser entendido como fazer o controle do valor do dinheiro que cada brasileiro possui. Você já deve ter percebido que o seu dinheiro perde valor com o passar do tempo, já que os produtos tendem a ficar cada vez mais caros. As decisões do COPOM podem acelerar ou retardar este processo de empobrecimento do país.

Juros elevados fazem as pessoas comprarem menos já que as parcelas ficam maiores. Pegar dinheiro emprestado fica mais caro. Juros elevados fazem as pessoas pouparem mais e com isto deixam de comprar hoje para comprar no futuro. A economia para de crescer. Com pouca gente podendo ou querendo comprar, as empresas começam a vender menos e com isto são forçadas a baixar preços para venderem mais. É por isto que o governo sobe os juros para controlar a inflação.

Quando a inflação está controlada o governo baixa os juros para estimular o crescimento da economia. Quando ocorre alguma crise, como a pandemia de 2020, os bancos centrais dos diversos países tendem a reduzir os juros para estimular a atividade econômica.

Você verá no próximo gráfico que sempre existem ciclos de queda e alta da inflação que são acompanhadas por ciclo de queda e alta dos juros.

Logo abaixo você tem um estudo que mostra a meta da taxa Selic (linha azul) e a inflação dos últimos 12 meses (IPCA) na linha vermelha até outubro de 2020. Para atualizar clique no botão de play.




Meta da Taxa SELIC x IPCA dos últimos 12 meses on TradingView.com



Observe que o COPOM modifica os juros tentando atingir uma meta de inflação. Você pode ver a meta da inflação aqui.

Ano Resolução Centro da meta Banda Limite Superior e inferior
​2020 ​Resolução 4.582 ​4 ​1,5 ​2,5-5,5
​2021 ​Resolução 4.671 ​3,75 ​1,5 ​​2,25-5,25
​2022 ​Resolução 4.724 ​3,50 ​1,5 ​​2,00-5,00

A tabela mostra que para 2022 o centro da meta é 3,50% de inflação podendo variar 1,5 pontos para mais ou para menos (que é a banda) e por isso temos um limite mínimo de 2% de inflação e um limite máximo de 5% de inflação.

Se o Banco Central identificar que a inflação poderá ficar acima da meta ou muito próxima do limite superior, ele tenderá a subir os juros. Se ele identificar que a inflação ficará abaixo da meta e se aproximando do limite inferior, ele tenderá a reduzir os juros. Para o Banco Central e o próprio Governo Federal sempre é preferível manter os juros baixos já que boa parte da dívida pública, emitida através de títulos públicos, paga juros que dependem da taxa Selic. Quanto menor os juros, menos o governo pagará de juros para os investidores e menos a dívida pública aumentará.

Estas metas de inflação podem ser modificadas no futuro pelo Conselho Monetário Nacional  (CMN) que é a entidade máxima do sistema financeiro. O CMN é comandado pelo Ministro da Economia, Ministro do Planejamento e Presidente do Banco Central. Todos eles são escolhidos pelo presidente da república.

Na tabela de meta da inflação, que você pode ver aqui, podemos perceber que tudo começou em 1999 quando o governo adotou o chamado tripé macroeconômico que é composto pelo regime de metas de inflação, metais fiscais e pelo câmbio flutuante. Traduzindo: a inflação precisa ser controlada, o governo não pode gastar mais do que arrecada e o câmbio deve seguir a lei da oferta e da procura sem grandes interferências do governo. É este tripé que fez a inflação se estabilizar e permitir todo crescimento que tivemos desde o início do Plano Real.

Quem tem direito a votar nas reuniões do COPOM

O COPOM é composto pelos membros da Diretoria Colegiada do Banco Central: o Presidente e os Diretores de Política Monetária, Política Econômica, Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos, Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações de Crédito Rural, Fiscalização, Regulação do Sistema Financeiro, e Administração. O Presidente tem direito ao voto decisório em caso de empate na decisão da política monetária.

Data das reuniões

Até 2005 as reuniões eram mensais. Em 2006 elas passaram a acontecer a cada 45 dias ou 8 vezes por ano. Sempre acontece terças e quartas-feiras. Existe um calendário com a data das reuniões nesta página aqui. Se acontecer algum evento inesperado que possa gerar impactos fortes na economia, o presidente do Banco Central pode convocar uma reunião extraordinária do COPOM. Isto já aconteceu algumas vezes no passado.

Veja o que acontece dentro da reunião do COPOM:

No primeiro dia participam da reunião seus membros e os chefes de sete departamentos do Banco Central:

  • Departamento de Assuntos Internacionais (Derin),
  • Departamento Econômico (Depec),
  • Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep),
  • Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban),
  • Departamento das Reservas Internacionais (Depin),
  • Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab), e
  • Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais (Gerin).
  • Participam também do primeiro dia de reunião o Secretário Executivo e o Assessor de Imprensa do Banco Central. A participação no segundo dia de reunião é limitada aos membros do COPOM e ao Chefe do Depep.

Cada chefe de departamento faz uma apresentação sobre a conjuntura econômica e financeira.

O Deban faz apresentação sobre a evolução da liquidez, reservas bancárias e depósitos compulsórios; O Depin apresenta análise sobre a economia global, o comportamento do mercado financeiro internacional e o mercado de câmbio doméstico; O Derin apresenta informações sobre a conjuntura econômica internacional; O Depec comenta dados recentes sobre atividade econômica, inflação, agregados monetários e crédito, política fiscal e balanço de pagamentos; O Demab resume os assuntos referentes aos mercados financeiros domésticos, condições de liquidez do mercado monetário, resultados dos leilões de dívida pública e composição e estrutura de vencimentos da dívida; Em seguida, o Gerin sumaria a evolução recente das expectativas do mercado para a inflação e para outras variáveis econômicas relevantes.

Como você pode ver os votos precisam ser justificados tecnicamente. Por isto é importante que o Banco Central seja um órgão técnico e não político. É muito perigoso tomar decisões econômicas sem olhar questões técnicas e prever o impacto disso no futuro. As pessoas podem ter boas intenções, mas precisam ter conhecimento técnico.

O segundo dia de reunião, só participam os membros do Comitê e o Chefe do Depep. A reunião se inicia com uma análise das projeções atualizadas para a inflação, baseadas em diferentes hipóteses para as principais variáveis macroeconômicas. Após essa avaliação, os Diretores de Política Econômica e de Política Monetária apresentam alternativas para a taxa de juros de curto prazo e fazem recomendações acerca da política monetária.

Os outros membros do Copom, em seguida, tecem seus comentários e propostas. Para concluir, os 4 membros votam numa proposta final. A decisão final – a meta para a Taxa Selic e o viés (de elevação ou de redução), se houver – é imediatamente anunciada à imprensa e divulgada na página do BC na internet através dessa página de comunicados. Também é divulgada a relação dos votantes e, em caso de não ter sido uma decisão consensual, a opção de cada um.

Viés da taxa de juros

O COPOM pode estabelecer um viés (tendência) para a taxa de juros no futuro. Pode ser um viés de elevação ou de redução dos juros. Quando isto é feito o Banco Central pode alterar a Taxa Selic na direção do viés a qualquer momento até a próxima reunião do COPOM. Na maioria das vezes não se determina um viés. O viés normalmente só é usado quando alguma mudança significativa na conjuntura econômica for esperada. Faz muito tempo que eles não usam o viés.

Divulgação da Ata do COPOM

Uma ata da reunião é divulgada depois das 08:00h da quinta-feira da semana posterior a cada reunião. Temos uma página com todas as atas do COPOM, veja aqui. Nesta ata você vai encontrar um resumo da reunião e a decisão. Normalmente a ata possui “dicas” sobre o que pensa o COPOM e sobre o que pode acontecer nas próximas reuniões. Investidores estudam cada vírgula da ata para identificar estas dicas.

Relatório trimestral da inflação

Nos meses de março, junho, setembro e dezembro, ou seja, no final de cada trimestre, o COPOM publica um relatório chamado “Relatório de Inflação” que analisa a situação econômica e financeira no Brasil. Eles também apresentam projeções para a taxa de inflação. As projeções inflacionárias são exibidas por meio de um “gráfico com o leque de inflação”, que mostra as projeções como uma distribuição probabilística, enfatizando o grau de incerteza presente no momento em que as decisões de política monetária são tomadas. Você também pode baixar e ler este relatório através do site https://www.bcb.gov.br/publicacoes/ri

 

Este é o chamado “Leque de Inflação” que retirei da página 72 do relatório de setembro de 2020 (esse aqui). Este gráfico mostra como a inflação poderia se comportar se os juros continuarem a 2% ao ano e o câmbio continuar no mesmo nível do dia anterior à reunião do COPOM. A linha central, mais escura, seria a trajetória mais provável da inflação até 2023 com base neste estudo. As linhas mais claras possuem probabilidade menor de acontecer a medida que se afastam da linha mais escura. A linha preta central e as pontilhadas são a meta da inflação e os limites superiores e inferiores. Podemos ver que a inflação teria uma tendência de alta até 2023 se taxa Selic e câmbio continuassem os mesmos de setembro de 2020. Sabemos que o Banco Central dificilmente fica muito tempo sem modificar a taxa de juros.

O câmbio não depende só do Banco Central. Crises econômicas ocorridas em grandes países do mundo, guerras, catástrofes naturais, atentados, pandemias, resultado de eleições, decisões de bancos centrais de outros países, movimentos especulativos e todo tipo de acontecimento político, econômico ou natural de grandes proporções podem impactar o câmbio.

Você pode ver o histórico com todas as decisões do Copom visitando aqui.

Conclusão:

Quanto menos você entender de economia, melhor para quem entende. Devemos estudar mais sobre o funcionamento da economia para que possamos cuidar dos nossos investimentos. Para aprender a investir em títulos públicos recomendo a leitura do livro Como Investir em Títulos Públicos. Para aprender a investir em títulos emitidos por bancos, que pagam juros maiores que os títulos públicos eu recomendo a leitura do livro Como Investir em CDB, LCI e LCA.

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