Quando publiquei o artigo sobre a guerra que o governo está travando para acabar os juros da renda fixa, onde o ministro da economia chegou a citar exemplos como 1% ou até 0,5% de juros ao ano no futuro, recebi algumas mensagens de leitores do Clube dos Poupadores perguntando sobre a possibilidade de juros negativos, pois essa é a realidade em vários países.

Também recebi mensagens perguntando sobre o fim dos juros reais, ou seja, a possibilidade de rendimentos na renda fixa menores que a inflação. Neste caso, investimento como Poupança, Tesouro Selic, CDB, LCI, LCA, fundos de renda fixa e outros que seguem o CDI ou Taxa Selic, não seriam capazes de manter o poder de compra do dinheiro com o passar do tempo.

Essa possibilidade de juros muito baixos ou menores que a inflação é uma questão preocupante para todos que estão poupando e investindo de forma conservadora com objetivos de longo prazo como aposentadoria e independência financeira.

As pessoas já estão percebendo que é muito arriscado depender do governo para uma aposentadoria segura no futuro. Assim como as regras da previdência já mudaram diversas vezes no passado, tudo indica que elas vão continuar mudando no futuro.

Podemos dizer que a previdência é um tipo de imposto camuflado de contribuição. Assim como você não tem garantia de que terá saúde, educação e segurança de qualidade pelos impostos que paga, não existe garantia de que o dinheiro gasto com a previdência do governo um dia retornará para o seu bolso.

Mais garantido será poupar e investir o seu próprio dinheiro para planejar o seu futuro. Para isso você só precisa criar o hábito de poupar e aprender a investir.

O problema é que os governos do mundo inteiro estão ficando cada vez mais endividados, pois a política em todos os países se baseia em prometer um mundo melhor, com a condição de que você entregue todo o seu dinheiro para que os políticos possam decidir sobre o que é melhor para você e para todos.

Quando o governo não consegue tirar das pessoas todo dinheiro que precisa, ele se endivida vendendo títulos públicos com taxas que ele mesmo determina. Imagine como seria maravilhoso se você pudesse pedir dinheiro emprestado tendo o poder de ditar a taxa de juro do empréstimo. Imagine se você pudesse definir juros menores que a inflação ou até juros negativos para sua dívida perder valor com o passar do tempo. É o que os governos de diversos países estão fazendo nesse momento.

Podemos observar um fenômeno mundial de juros menores que a inflação, juros inexistentes (juro de 0% ao ano) e até de juros negativos. Pode parecer absurdo, mas em países como o Japão (-0,10%), Suécia (-0,25%), Dinamarca (-0,65%) e Suíça (-0,75%) os juros anuais dos títulos públicos que emitem são negativos, mesmo com registrando inflação.

Isso significa que ao fazer investimentos de renda fixa nesses países o investidor recebe menos do que investiu, principalmente devido ao efeito da inflação. É uma forma do governo desses países reduzirem o tamanho das dívidas que possuem graças ao juro zero, negativo ou abaixo da inflação.

A tabela logo abaixo está ordenada por países que possuem grandes dívidas. O Japão está no topo da lista com uma dívida equivalente a 253% de todas as riquezas que os japoneses produzem (empresas e pessoas) por ano (PIB). A tabela mostra que o Japão possui juro negativo de -0,10% ao ano e uma inflação de 0,70% ao ano. Através da fórmula ((1+juro)/(1+inflação))-1 encontramos o juro real de -0,79% ao ano, ou seja, não existe ganho real (acima da inflação) nessas condições. Isso significa que é vantajoso para o governo japonês ficar devendo, já que a dívida que eles possuem com a população ficará cada vez menor com o passar do tempo (fonte do gráfico). Os japoneses ficam obrigados a investir o dinheiro em investimentos de renda variável como negócios, imóveis ou nas ações de empresas que geram e distribuem lucros (dividendos).

Observe que o Brasil é a décima terceira maior dívida em relação ao PIB. Nossa dívida representa 77,22% de tudo que o país produz de riquezas por ano. Como a taxa de juros está em 6,5% ao ano e a inflação é de 3,37%, o juro real que o investidor recebe na renda fixa é de apenas 3,03% ao ano. Parece muito quando comparamos com países desenvolvidos. O problema é que estamos caminhando para juros de países desenvolvidos antes do Brasil se tornar desenvolvido.

Se a taxa Selic cair para 5%, como muitos economistas estão prevendo, e a inflação permanecer na meta que é de 4,25%, isso já seria suficiente para produzir juros reais abaixo de 1% ao ano (0,72%).


Clique no vídeo acima e assista ao trecho que selecionei de uma conversa entre gestores de grandes fundos de investimento do Brasil. São pessoas responsáveis pelas decisões de investimento de bilhões de reais dos clientes que investem nos fundos geridos por eles. Fica bem claro que estão preocupados com a onda de juros negativos que afetam os investimentos no mundo inteiro.

O vídeo começa com o gestor de fundos de investimento, Rogério Xavier da SPX Capital (que faz a gestão de mais de R$ 35 bilhões) relatando a primeira vez que viu a Suíça pagando juros negativos. Depois ele perguntou a opinião do gestor André Jakurski, um dos fundados da JGP Gestão de Recursos (faz a gestão de mais de R$ 13 bilhões em seus fundos). É curioso observar que André Jakurski já foi sócio do Paulo Guedes, atual ministro da economia. Quando mais jovens, fundaram o Pactual DTVM (1983) que depois se tornou o Banco Pactual que hoje é o BTG Pactual.

Jakurski diz, no vídeo, ter percebido que diversos bancos centrais importantes do mundo estão gradualmente deixando de definir as taxas básicas de juros como o objetivo de atingir as metas da inflação. Agora eles estão definindo juros como uma forma de “liquefazer as dívidas impagáveis” que os governos acumularam nas últimas décadas pelo mundo.

Os bancos centrais estão tomando decisões movidas por um viés político e não mais por fundamentos técnicos e isso compromete a independência desses bancos. Ele destaca que os bancos centrais são constantemente influenciados pelos políticos e ao invés de combater a inflação eles acabam criando a inflação.

Depois ele descreve a situação de um alemão que faz investimentos conservadores comprando títulos públicos alemães com vencimento em 10 anos, que atualmente pagam juros negativos de -0,40% nominais ao ano ou -2% de juro real ao ano (incluindo a inflação). Com isso o governo alemão encontrou uma forma “indolor” de  “expropriar” o patrimônio do investidor conservador alemão. Expropriar é o nome que se dá quando o Poder Público toma o dinheiro ou os bens de alguém utilizando como desculpa o interesse público.

Jakurski deixa claro que, para ele, juros negativos e abaixo da inflação representam um mecanismo encontrado pelos governos do mundo para retirar parte do patrimônio das pessoas, já que não conseguem mais fazer isso cobrando impostos (por já estarem muito elevados).

Jakurski chega a afirmar que isso seria uma espécie de “morte lenta” do capitalismo e fala sobre sua preocupação com relação a próxima crise econômica global diante da existência de juros negativos.

Teoricamente os juros negativos permitem que empresas ruins e que não dão lucro continuem existindo.

Isso mostra o quanto é importante aprender a avaliar os fundamentos das empresas antes de investir, principalmente quando os juros estão em queda e todas as ações da bolsa estão em alta. Quando os juros estão muito baixos, até ações de empresas com problemas financeiros e que não geram lucro se valorizam.

Rogério Xavier da SPX lembra uma frase de um investidor famoso: “Ganhe o máximo possível agora, para que quando você perder (na próxima crise) sobre algum dinheiro“.

Rogério Xavier termina o evento destacando que no curto e médio prazo o Brasil vive uma oportunidade que não deve ser desperdiçada, ou seja, ganhar o máximo como preparativo para a próxima crise global.

Na visão dele, teremos juros muito baixos na renda fixa por muito tempo e isso estimulará a alta dos investimentos de renda variável, como ações negociadas na Bolsa. Para ele, o investidor brasileiro deve manter um olho no Brasil e o outro no setor externo, que vive uma desaceleração econômica global, juros baixos ou até negativos. Dessa forma, ele termina recomendando que os investidores vivenciem um dia de cada vez.

Não creio que o Brasil terá juros negativos nos próximos anos, mas a tendência de queda dos juros reais, que é o que sobra quando descontamos a inflação, deve continuar.

 

Preparei o gráfico acima para mostrar que já tivemos juros reais próximos de 0,55% em 2013 e voltamos a ter juros reais muito baixos agora, tendendo a cair mais se a taxa Selic continuar caindo. Já estamos no terceiro ano de queda dos juros reais nos investimentos de renda fixa. A linha azul representa a Taxa Selic anual. A linha vermelha é a inflação dos últimos 12 meses (IPCA). A linha preta é o que sobra quando descontamos a inflação da Taxa Selic.

Já no gráfico acima é fácil observar a relação entre a queda da Taxa Selic (linha azul) e queda da inflação (linha vermelha) e a alta do índice Bovespa, que mede o desempenho das ações mais negociadas na Bolsa. No mundo inteiro os investidores buscam compensar a queda na rentabilidade dos investimentos de menor risco destinando uma parte dos seus investimentos para aqueles que são de maior risco.

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