Quando você aplica o seu dinheiro em um fundo de investimento, tem a esperança de que o gestor do fundo conseguirá uma rentabilidade melhor do que a que você teria se investisse por conta própria. Afinal de contas, ele estará sendo muito bem pago para conseguir esse feito.

As instituições financeiras estão sempre motivando você a investir em fundos. A taxa administrativa que eles cobram costuma ser alta. Quando a taxa básica de juros da economia está em queda, o impacto da taxa administrativa sobre o rendimento se torna ainda mais evidente.

Imagine investir em um fundo de renda fixa que cobra taxa administrativa de 2% quando se espera que a renda fixa no ano fique próxima 6%. Um terço do rendimento seria jogado no lixo. Quanto menor a rentabilidade dos investimentos, mais a taxa administrativa se torna preocupante para o pequeno investidor.

O que podemos constatar é que são poucos os fundos de investimento que superam a rentabilidade que você poderia ter se investisse sozinho(a).

Por falta de tempo ou de conhecimento, muitos preferem investir em renda variável através dos fundos de ações. Quem investe em fundos de ações espera que o fundo consiga, no mínimo, se igualar ou superar o desempenho do índice bovespa de forma consistente e duradoura, principalmente quando o fundo faz a propaganda de que possui uma equipe de experts que trabalham arduamente para encontrar as melhores oportunidades, gastando um tempo e uma experiência que você não tem. Veremos que para isso os fundos de ações cobram as maiores taxas administrativas.

Quem investe em fundos multimercado espera que o fundo supere o CDI, de tal forma que a exposição ao risco compense. Os fundos multimercado costumam ter taxas administrativas maiores do que os fundos de renda fixa com a desculpa de que os experts terão mais trabalho para escolher os melhores investimentos que irão “turbinar” os rendimentos do fundo.

O problema é que muitas vezes pagamos taxas administrativas maiores para os gestores desses fundos e os resultados que eles conseguem colher costumam ser medianos ou medíocres.

Vou mostrar como você pode fazer esse tipo de avaliação do mercado de fundos sempre que achar necessário.

No site da Anbima, que é a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, existe uma planilha chamada “Consolidado Histórico de Fundos de Investimento” que é atualizada mensalmente com dados da indústria de fundos de investimento no Brasil. Sempre no 16º dia útil do mês atual você terá o resultado dos fundos referente ao mês anterior. Infelizmente eles não permitem acessar os relatórios dos meses passados. O relatório traz as seguintes informações:

  • Evolução histórica de patrimônio líquido, captação líquida, número de fundos e número de contas consolidados por Classe ANBIMA
  • Evolução histórica de patrimônio líquido por ativos
  • Evolução histórica da taxa de administração por Classe ANBIMA, do segmento varejo, ponderada pelo patrimônio líquido dos fundos
  • Dados estatísticos de rentabilidade da indústria de fundos
  • Patrimônio líquido e captação por Classe ANBIMA e por segmento do investidor
  • Anexo: fechamento mensal dos fundos de investimento

Você terá acesso aos resultados de milhares de fundos de investimentos de todos os bancos e instituições do país em um único arquivo de Excel. Visite aqui e você encontrará o link para baixar a planilha no final da página.

Dentro do arquivo .zip você encontrará a planilha “Consolidado Histórico de Fundos de Investimento”. Abra no Excel e observe a existência de dezenas de abas na parte inferior da planilha. Procure a aba chamada “Pag. 12 – Dados Estatísticos” clicando nos 3 pontinhos do lado direito da barra de abas.

Vamos encontrar uma tabela com a mediana e a média da rentabilidade dos fundos por categoria. Veja um exemplo:

O relatório que baixei quando estava escrevendo este artigo era referente a fevereiro de 2018. O índice bovespa nos últimos 12 meses tinha registrado alta de 31,3%. Era de se esperar que os fundos de ações tivessem desempenho igual ou superior ao índice, especialmente aqueles fundos que possuem como objetivo superar o ibovespa.

Aqui estão todos os principais índices de referência (benchmarks) do mês de fevereiro. Você encontrará indicadores como esse, referente ao mês atual, visitando aqui:

Observe o primeiro tipo de fundo da tabela da Anbima que é o “Ações Indexados”. Eles são fundos que têm como objetivo replicar as variações de indicadores de referência do mercado de renda variável, que normalmente é o índice Bovespa (ibovespa). O gestor do fundo não precisa fazer nenhum trabalho especial, ele só precisa replicar a carteira teórica do fundo. O ibovespa acumulado dos últimos 12 meses foi de 31,3%.

Agora observe os fundos “Ações Livres”. São fundos que não possuem obrigatoriamente o compromisso de concentração em uma estratégia específica. A parcela em caixa pode ser investida em quaisquer ativos, desde que especificados em regulamento. Isso significa que, normalmente, o gestor pode usar a experiência, conhecimento e inteligência para escolher qualquer ativo.

Todos os demais fundos de ações seguem alguma estratégia. Alguns adotam estratégias agressivas, com trabalho ativo do gestor e, mesmo assim, muitos desses fundos não conseguiram superar os fundos mais passivos que replicam o ibovespa. Diante disso, seria mais barato para o investidor adotar uma ETF que replica o ibovespa passivamente como BOVA11 ou PIBB11, pois o custo seria bem menor. O primeiro cobra 0,54% de taxa anual e o outro cobra 0,059% (quase 10 vezes menos). Um ETF pode ser comprado como se fosse uma ação ou um fundo imobiliário através das corretoras.

Mediana

Observe a coluna chamada “Mediana”. Ela mostra a rentabilidade dos fundos que estão no meio entre os que tiveram as maiores rentabilidades e as menores rentabilidades. Podemos dizer que 50% de todos os fundos tiveram rentabilidade entre o valor que aparece na coluna 1 quartil e 3 quartil.

Podemos dizer que dos 717 fundos de “Ações Livre” metade (358 fundos) tiveram rentabilidade entre 28,69% e 20,51% nos últimos 12 meses, ficando abaixo dos 31,3% do índice bovespa. Somente 25% dos 717 fundos tiveram resultado acima de 28,69% e outros 25% tiveram rentabilidade abaixo de 20,51%. Podemos ver que a média de rentabilidade dos 717 fundos ações livres foi de apenas 24,89% diante dos 31,3% do ibovespa.

Metade dos fundos “Ações Indexados”, que deveriam igualar ou superar os 31,3% do ibovespa, tiveram rentabilidade entre 25,45% e 28,05%.  A média ficou em 25,88%. Entre os fundos “Indexados Ativos” metade teve rentabilidade entre 29,64% e 23,45%, ou sejam, a proatividade dos gestores não foi de grande utilidade para o investidor que pagou para ter um desempenho melhor. Apenas um quarto dos fundos tiveram resultados melhores que 29,64% e o um quarto restante teve resultado pior que 23,45%.

Neste outro relatório temos o resultado dos fundos nos 12 meses de 2017. Observe a coluna “Mediana Premio vs IBOV p.p.”. Dos 12 tipos de fundos de ações somente 5 conseguiram superar a variação do ibovespa, sendo que 4 tiveram ganhos pouco significativos.

É um “prêmio” pequeno e raro quando observamos quanto custa, já que as taxas administrativas dos fundos de ações superam os 2% ao ano.

A próxima tabela, que também está no arquivo do Excel da Anbima, mostra a média de taxa administrativa que o investidor paga para investir nesses fundos, que na maioria das vezes não consegue superar o ibovespa.

A primeira linha é referente a taxa que era cobrada em dezembro de 2010 e a última linha era referente a dezembro de 2017. A primeira coluna mostra a taxa administrativa média dos fundos que exigem menos de R$ 1000,00 de investimento mínimo do investidor para a entrada no fundo. A coluna >100.000 mostra a taxa administrativa dos fundos que exigem mais de R$ 100 mil de investimento inicial do investidor. Podemos concluir que quanto maior a exigência de investimento mínimo, menor a taxa administrativa, mas, mesmo assim a diferença não é muito significante. Na média. o investidor paga mais de 2% de taxa administrativa sobre o patrimônio investido para receber uma rentabilidade que ele mesmo poderia conseguir se investisse sozinho.

Entre os fundos multimercado a situação não é muito animadora, pois os custos também são elevados.

Grande parte dos fundos multimercado tem como objetivo superar o CDI. Para isso o investidor fica exposto a um maior risco. Nos fundos multimercado podem registrar rentabilidade negativa, coisa que dificilmente ocorre em fundos de renda fixa conservadores que seguem o CDI.

O CDI dos últimos 12 meses, a partir de fevereiro de 2018 foi de 9,4% ao ano. Como você pode ver na tabela, a maioria dos tipos de fundo multimercado superou o CDI em 1 ou 2 pontos percentuais. Como fundos multimercado aplicam uma pequena parte em ações ou em fundos de ações que normalmente replicam o índice bovespa, não seria muito difícil para qualquer investidor conseguir 1 ou 2 pontos percentuais acima do CDI se investisse apenas 10% ou até 15% do seu patrimônio em um ETF ou fundo passivo que replicasse o ibovespa.

Com 90% do seu investimento rendendo 100% do CDI e 10% rendendo 100% do ibovespa nos últimos 12 meses já seria suficiente para superar o desempenho de metade de todo os fundos multimercado.

No ano de 2017 foram poucos os fundos multimercado que superaram 120% do CDI (fonte). Sabemos que existem investimentos como CDB´s de bancos médios e menores que oferecem rentabilidades acima de 100 do CDI, sem a cobrança de taxa administrativa e sem o efeito negativo do come-cotas semestral. O ponto negativo do CDB em relação ao fundo é a falta de liquidez.

A taxa administrativa média dos fundos multimercado é de 1,7% do patrimônio investido ao ano. Um investidor com R$ 100 mil investidos pagaria R$ 1.700,00 para um multimercado que cobra taxa de 1,7% ao ano por algo que ele mesmo poderia fazer sem muita dificuldade.

As pessoas pagam taxas sem reclamar por não sentirem que estão pagando. Os fundos descontam a taxa administrativa da rentabilidade que você recebe diariamente no fundo. É mais fácil a pessoa pagar 2% de taxa administrativa de um fundo sem reclamar do que pagar 0,3% de taxa quando investem no Tesouro Direto, por serem obrigadas a depositar esse dinheiro na corretora para ser sacado pela Bovespa que faz a custodia dos títulos.

É claro que no meio de milhares de fundos de investimento existe um pequeno grupo de fundos que conseguem desempenho bem acima da média. Quando olhamos o desempenho histórico desses fundos observamos que os que apresentam resultados consistentes (ano após ano) fazem parte de um grupo ainda menor.

Devemos considerar que o investimento através de fundos de investimento representa uma comodidade. Toda comodidade tem um preço.

Cabe ao pequeno investidor avaliar o custo da comodidade e o custo de aprender a fazer o que pode ser feito por conta própria. Muitas vezes não hesitamos em pagar milhares de reais por ano para o gestor de um fundo realizar investimentos que nós mesmos poderíamos fazer se tivéssemos dedicado um pouco de tempo lendo um livro ou fazendo um curso que nos ensinasse a investir.

Recomendo que aqueles que possuem fundos verifiquem regularmente o desempenho desses fundos. Por ser um serviço pago, é importante exigir desempenho do gestor, pois muitos gestores fazem muito pouco pelo que recebem. Não fique “casado” com fundos de investimento que não merecem o que recebem pelo serviço que prestam. Quanto mais educação financeira, mais difícil será manter um fundo de investimento que apresenta resultados insatisfatórios cobrando taxas elevadas.

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